
A escuridão do meu recinto é quebrada por uma pequena luz que passa pela fresta da janela.
Vejo-a ali, deitada em minha cama, nua, pálida como um defunto, os olhos fechados, o corpo suado, a respiração ainda ofegante.
Nossas roupas misturam-se espalhadas pelo chão do quarto.
Na minha taça ainda resta uma ultima dose do vinho que nos embriagou.
Eu o bebo, e lanço a taça de encontro a parede, num desejo doentio de saciar minha fúria. Ela se quebra, e com ela o pouco de sanidade que me restava.
A realidade é dolorosa, fria e cruel.
Vejo teu corpo ali no meu quarto, na minha cama, mas sei que não me pertence.
Sei que logo voltará aos braços daquele que ama, e eu não passarei de uma vaga lembrança de prazer... nada além de um objeto de prazer.
Maldita!!!
Hoje, porém, tu não voltará mais para os braços daquele que a espera.
Tú serás minha... para sempre!!!
Pego o travesseiro (o mesmo que servira para descansar tua cabeça enquanto fazíamos amor).
Olho mais uma vez teu corpo, ainda vivo...
E bruscamente pressiono-o contra tua face angelical.
Sinto seu corpo debater-se sob mim, num instinto louco de sobrevivência. Até que lentamente seus músculos relaxam...
Levanto o travesseiro e a vejo: jaz sobre meu leito.
O silêncio que se segue só é quebrado por uma música que não parece ser desse mundo:
Bauhaus – Bella Lugosi’s Dead.
Sei que é você me chamando do outro lado.
- Já estou indo meu amor!!! – gritei
Tudo está preparado: a corda, o banco... e eu.
Amarro a corda em um lugar alto, faço o laço, subo no banco, passo a corda pela cabeça e a deixo no pescoço.
Tudo lento, acompanhando o ritmo da música, como num ritual.
- Já estou indo meu amor!!! – desta vez o som da minha voz ecoa pelo recinto de forma insana, doentia.
Dou uma última olhada em seu corpo: agora calmo... em paz.
Derrubo o banco, e para minha surpresa meu pescoço não se quebra com o impacto do peso do meu corpo.
O laço aperta.
Sinto uma dor aguda...
Gritar é impossível...
Desistir é uma ilusão... e nem quero.
Minha visão embaça.
O ar já não vai mais para os meus pulmões e meu último pensamento antes de ir rumo a escuridão é:
- Já estou indo meu amo...
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