“Prólogo”
Há dias vislumbrava um imenso vazio consumir lentamente minhas forças, meus sentimentos e minha vontade de viver.
Ficava horas a fio olhando a paisagem tão conhecida, com a mesma admiração de um artista ou de um forasteiro. Cada detalhe, por menor que fosse não passava despercebido pelos meus olhos e, da mesma forma, nenhum som aos meus ouvidos. Meus sentidos estavam aguçados. Podia sentir facilmente o perfume das flores que iam de encontro ao chão, pois tamanha era a força da chuva e do vento.
Não resisti a essa decadência da natureza: o céu nublado com grandes nuvens escuras; as árvores balançando seus galhos de um lado a outro, como se dançassem com o vento, ou para o vento; o frio que vinha de fora e arrepiava meu corpo com um ar gélido, quase fatal e, ao mesmo tempo prazeroso.
Ante a essas tentações, corri para fora e, já todo ensopado, pude sentir minhas mãos trêmulas, meu corpo pálido, arrepiado e um sorriso doentio nos lábios. Fiquei ali por mais alguns minutos, sentindo aquele misto de prazer e dor.
Adentrei meu quarto: um cubículo de alguns poucos metros quadrados; os poucos móveis Ficavam miseravelmente distribuídos de forma aleatória; as parede estavam úmidas, pois há dias chovia. Despi-me das roupas molhadas e peguei outra, querendo evitar um resfriado. Sentei-me, frente a minha escrivaninha, peguei o cigarro e o vinho, a caneta e o papel e pus-me a escrever. Ao Terminar esta já tão conhecida tarefa, reuni meus manuscritos, os que acabara de fazer e alguns outros que já possuía.
Dessa forma fiz esta seleção de minhas obras, as quais agora você tem em mãos.
“Eu sou alguém e, sobretudo, não me confundas com os outros.”
Friedrich Nietzsche
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